Você me culpou por te amar demais, saiu espalhando para
metade dos nossos amigos que eu vivia em um conto de fadas, você não aguenta
esse grude, pegou suas malas, suas roupas, seu coração e hoje sua melhor amiga
é a vodca e seu amor verdadeiro é a balada. Você disse que era engano aquela
ligação as três horas da madrugada no meu celular, disse que estava louco e que
nada daquilo te afetou, era chamada de emergência. Disse isso para si mesmo
umas quatro, talvez cinco vezes.
Em uma quarta-feira qualquer bateu na minha porta buscando
seu perfume, eu sequer sabia que estava lá, olhou tudo em volta, desconfiado se
tinha alguém, alguma companhia, queria jogar na minha cara que eu era a sem
coração da história e já tinha seguido em frente. Mas lembrou que nunca fui
igual a você, a minha versão foi abraçar o travesseiro com seu perfume e ficar
pensando horas qual foi nosso erro, a minha versão foi ficar em casa e me
curando aos poucos com doses exaustivas de friends.
Não precisei falar que me sentia bem, não precisei colocar
um vestido apertado e um batom marcante para me recuperar. Eu senti a dor em
cada olhada para o guarda roupa sem nenhuma roupa sua, eu senti em cada entrada
na nossa loja preferida de café, eu senti em cada sorriso de casais apaixonados
que encontrei na rua. Mas me recuperei meu bem, eu sempre fui forte e o conto
de fadas que você pensou que eu vivia, preciso te contar que nunca imaginei
isso de nós.
Nunca quis ser uma princesa, muito menos me apaixonar por um
príncipe, eu gostava de como brincávamos com assunto sério, gostava de como me
olhava quando acordava e isso era o que me fazia apaixonada, isso que me fazia
sentir amor. E infelizmente você nunca soube a verdadeira versão da história, a
liberdade pode ser boa, mas não dura muito meu bem, aquela ligação com a voz
rouca dizendo “eu te amo” era tu e não sua bebida.
Hoje em dia, vi que prefiro meu guarda roupa com minhas
novas roupas, meu café tradicional e minha liberdade. Talvez te amei demais,
mas hoje, já não amo mais.